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Necessidade da Encarnação


Não poucas vezes algum irmão nos pergunta sobre o porque de precisarmos encarnar, uma vez que, segundo afirma, com base no relato dos autores espirituais, tudo o que se encontra na Terra também se encontra no plano espiritual. Lembram os irmãos que assim pensam que, no plano espiritual, existem lares, famílias, cidades e comunidades várias, amigos e inimigos, trabalho e repouso, veículos, tudo, enfim, de que alguém necessita para ter uma vida igual àquela que se passa na Terra, sendo possível lá, como cá, praticar a reforma íntima e evoluir pelo estudo sério e pelo trabalho caritativo dedicado e amoroso.
A resposta a tal questionamento é justamente o tema da primeira parte deste estudo, isto é, saber qual a real necessidade da encarnação, qual a real necessidade de vivermos em um corpo material e de interagirmos com a matéria bruta para podermos evoluir até a perfeição.
Se lermos com atenção a resposta que São Luiz deu a Kardec no Item 25 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, vermos que ela não satisfaz a curiosidade de tais irmãos.
25. É um castigo a encarnação e somente os Espíritos culpados estão sujeitos a sofrê-la?
A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes necessária, a bem deles, visto que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o desenvolvimento da inteligência. Sendo soberanamente justo, Deus tem de distribuir tudo igualmente por todos os seus filhos; assim é que estabeleceu para todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de proceder. Qualquer privilégio seria uma preferência, uma injustiça. Mas, a encarnação para todos os Espíritos, é apenas um estado transitório. E uma tarefa que Deus lhes impõe, quando iniciam a vida, como primeira experiência do uso que farão do livre arbítrio. Os que desempenham com zelo essa tarefa transpõem rapidamente e menos penosamente os primeiros graus da iniciação e mais cedo gozam do fruto de seus labores. Os que, ao contrário, usam mal da liberdade que Deus lhes concede retardam a sua marcha e, tal seja a obstinação que demonstrem, podem prolongar indefinidamente a necessidade da reencarnação e é quando se torna um castigo. - S. Luís. (Paris, 1859.)
Ora, por que – perguntariam eles, provavelmente insatisfeitos com a resposta de São Luís – os desígnios de Deus hão de requerer ação no plano material? Se, tanto a inteligência quanto a bondade, podem ser desenvolvidos na espiritualidade, qual a necessidade de se encarnar, qual a necessidade de se agir no plano material? Na espiritualidade – continuariam eles - não estaríamos, também, exercendo, a todo instante, o livre-arbítrio e nos sujeitando todo tempo à lei da causalidade e às demais leis de Deus? Não nos é possível, lá, tanto quanto cá – concluiriam - fazermos uso de nosso livre-arbítrio e de nossa força de vontade tanto para o bem quanto para o mal?
Tentando encaminhar essa questão, vejamos o que Kardec perguntou aos Espíritos, no desdobramento “a” da Questão 175 de O Livro dos Espíritos:
175. Haverá alguma vantagem em voltar-se a habitar a Terra?
 “Nenhuma vantagem particular, a menos que seja em missão, caso em que se progride aí como em qualquer planeta.”
a)     Não se seria mais feliz permanecendo na condição de Espírito?
“Não, não; estacionar-se-ia e o que se quer é caminhar para Deus.”
Está aí uma afirmação que nos interessa. Que estarão querendo dizer os Espíritos, ao afirmarem, de modo tão peremptório, que permanecer na espiritualidade é o mesmo que estacionar? O raciocínio de nossos irmãos nos estava conduzindo à conclusão contrária, não é mesmo?
Mais adiante, ainda em O Livro dos Espíritos, Kardec continua:
196. Não podendo os Espíritos aperfeiçoar-se, a não ser por meio das tribulações da existência corpórea, segue-se que a vida material seja uma espécie de crisol ou de depurador, por onde têm que passar todos os seres do mundo espírita para alcançarem a perfeição?
 “Sim, é exatamente isso. Eles se melhoram nessas provas, evitando o mal e praticando o bem; porém, somente ao cabo de mais ou menos longo tempo, conforme os esforços que empreguem; somente após muitas encarnações ou depurações sucessivas, atingem a finalidade para que tendem.”
Está mais que claro, pela Codificação, tanto em O Evangelho Segundo o Espiritismo quanto em O Livro dos Espíritos, que os Espíritos só podem evoluir encarnados. Foi o que disseram os Espíritos e o que Kardec entendeu e aceitou. Mas, por que?
A vasta obra de André Luiz, que nos veio pela abençoada mediunidade de nosso saudoso Chico, trouxe-nos preciosos ensinamentos de como as coisas se passam no mundo espiritual, ensinamentos esses, mais tarde, corroborados por diversos outros Espíritos, através de outros médiuns. Vejamos se desse farto material, aliado às lições que obtemos da Codificação, tiramos algum elemento que falta ao nosso raciocínio.
O estudioso atento e que aprendeu que a Doutrina é evolutiva, aprende, por exemplo, que nossa real identidade no mundo espiritual é transparente, podendo nossos inimigos de outras eras reconhecer-nos sem grande dificuldade, ao contrário do que ocorre quando estamos encarnados, onde uma nova personalidade nos esconde dos desafetos que nos queiram prejudicar. Fica sabendo, também, que não há dissimulação no plano espiritual, sendo nossos pensamentos e emoções facilmente percebíveis por quem esteja em nossa faixa de sintonia.
Qualquer tentativa de nos reconciliarmos com alguém a quem tenhamos prejudicado no passado incorrerá em fracasso se estivermos no plano espiritual, uma vez que nosso medo da reação de nossos desafetos ou nossa postura defensiva contra sua possível vingança estarão sempre a nos denunciar. Do mesmo modo que o cão percebe se a pessoa perto dele está serena ou com medo, amorosa ou agressiva, reagindo conforme tal percepção, os Espíritos desencarnados percebem as emoções e pensamentos uns dos outros e reagem de acordo com eles, de nada valendo o autocontrole com que qualquer um deles tente esconder o que sente ou o que pensa dos demais.
Impossibilitados de nos reconciliar com nossos desafetos do passado e fazendo novos desafetos a todo instante pela impossibilidade de escondermos dos outros nossos pensamentos e emoções a respeito deles, já não nos parece mais difícil entender porque ficaríamos praticamente estacionados se permanecêssemos indefinidamente no plano espiritual. Podermos evoluir envolvidos em atividades caridosas com o apoio de Espíritos mais evoluídos, sem dúvida. No entanto, somente conseguiríamos ajudar os Espíritos sofredores caso esses não nos conhecessem ou caso, apesar de nos conhecerem, nada de mal tivesse jamais ocorrido entre eles e nós. 
Por outro lado, ao encarnarmos, nos é dada uma oportunidade toda nova de recomeço. Temos uma nova aparência, nada lembramos de nossas vivências pretéritas e possuímos domínio sobre o que falamos e sobre a expressão que estampamos em nosso rosto, sendo-nos possível dissimular pensamentos e emoções. Nossos Espíritos Protetores utilizam tal situação para juntar, nas mesmas famílias, nas mesmas comunidades, Espíritos que necessitam de reconciliação. Protegidos uns dos outros pelo “disfarce” do corpo físico, temos a oportunidade de travar novas relações com todos. Se soubermos fazer uso dessa possibilidade, com sabedoria, não só não mais faremos desafetos como iremos, pouco a pouco, reparando nossos erros do passado e sublimando, em relações de família equilibradas e amorosas, o ódio dos inimigos figadais de outrora.
A encarnação é, portanto, mais uma benção que recebemos da bondade divina. Toda vida existente no universo deve ser respeitada como tal. Porém, sabermos amar a vida onde quer que ela se encontre pressupõe que saibamos amar a nossa própria.
Aprendamos, portanto, a amar e respeitar nosso corpo, tratando-o com cuidado e atenção, para que, saudável, ele seja o instrumento de nosso progresso e dos demais seres com quem nos relacionamos na vida. Afinal, o corpo físico que ganhamos a cada encarnação é o templo onde, com estudo e trabalho no bem, construiremos o reino dos céus que Jesus ensinou estar dentro de nós.
Renato Costa
Fonte: www.ieja.
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