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A criança e a família

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Não podemos falar sobre a importância da família na formação da personalidade da criança, sem antes lembrar da grande e singular importância que sobre ela exerce a lei reencarnacionista, lei de justiça, a revelar-se nas menores particularidades da existência, como uma longa série de causas e efeitos, explicando a existência do ser, do destino e da dor.
Neste ir e vir em busca da construção e reconstrução de situações, surgem agravantes e atenuantes que repercutem, sobremaneira, na formação da nossa parentela corporal e espiritual.
Citamos a colocação de Emmanuel que nos diz: “O colégio familiar tem suas origens sagradas nas esferas espirituais. Em seus laços reúnem-se todos aqueles que se comprometeram, no Além, a desenvolver na Terra uma tarefa construtiva de fraternidade real e definitiva”.
Visto fica que, é no seio da família onde restabelecemos novamente contato com espíritos que têm afinidade conosco amorosamente, com aqueles que nos devotam antipatia marcantes, ódio doloroso, todos vinculados à sábia lei da causa e do efeito, competindo agora, aos pais, transformarem estes sentimentos controvertidos, estas personalidades deformadas em matizes novas, geradoras de novas energias, estabelecendo, para todos, amplo programa iluminativo e libertador, onde o lar e a família se tornem células divinas do cristianismo operante, fonte permanente de amor e caridade fraterna.
Conhecendo a abrangência e a importância da formação familiar, e a sua relevância na formação da personalidade infantil, André Luiz comenta ensinando: “Os frutos falam pelas árvores que os produzem. Nossas obras na esfera viva de nossa consciência, são as expressões gritantes de nós mesmos”.
Quando não temos a condição de amar e não damos a condição de sermos amados, geramos ao nosso derredor graves distúrbios de ordem emocional que atingirão, profundamente, os que nos cercam.
É consenso universal de que a qualidade e quantidade de afeto recebida na primeira infância, determinam, mais do que qualquer outra influência, o curso e a qualidade da vida da criança.
A figura dos pais é essencial e fundamental neste intercâmbio de energias amorosas. 

Falta de afeto
Bakwin e colaboradores informam que os índices de mortalidade, de 95% , para crianças doentes longamente institucionalizadas e 15% , para as que vivem em ambiente familiar, mostram que aquelas desenvolvem maior suscetibilidade para infecções, quando cuidadas ou tratadas por pessoas competentes, mas que não se relacionam com elas afetivamente.
Harlow observou traumatismos em macaquinhos com mães afastadas deles e, verificou maiores distúrbios nos macacos que não recebiam afeto por falta de mãe.
Spitz, em suas observações, concluiu quanto à importância do amor, descrevendo casos de morte por carência afetiva, que havendo aleitamento natural, quer artificial, na ausência de afeto da mãe ou substituta.
Observando o bebê, sentimos que ali está, momentaneamente adormecida, uma mente criativa, uma energia em potencial, pronta para reconstruir seu mundo, suas emoções, às expensas do meio que lhe cerca, do amor que lhe chega.
O aconchego na amamentação, o tocar seu corpo pequenino, as carícias suaves, os gestos de ternura, os sussurros de amor, todos os cuidados a ele dispensados pelos pais embevecidos são emoções que despertam, para sempre, registros em seu psiquismo.
É período sensível do ser vivo, que lhe abre nova compreensão do seu crescimento interior, trabalho lento, minuciosamente orientado pelos instintos que lhe servem de guias, impelindo-o a determinados comportamentos característicos desta fase da vida.
Com o desdobrar dos sentidos, com o amor e desvelos recebidos, torna-se o bebê mais seguro, confiante, aos poucos mais independente, tomando consciência de si mesmo e do que representa. Toma conhecimento do que precisa saber que é extremanente importante para a formação dos seus caracteres pessoais: eu sou amado.
Da mesma forma, os gestos de irritação, impaciência, descuido, violência, repulsa, são agressões, não verbalizadas algumas vezes, que serão também registradas para o resto da vida, marcando-o profundamente pela descoberta que realiza: como sou detestado.
“A criança que não recebe suficiente afeto em sua infância, em especial no seu primeiro ano de vida, projetará as conseqüentes sensações no ambiente e não terá, por isso, equilíbrio emocional para aceitar o mundo e nele ser aceito”, reforça Dr. Hain Grunspun, professor de psiquiatria infantil da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Cessadas as fases de sensibilidade, até um ano, e a de socialização individual, até o terceiro ano de vida, as conquistas intelectuais devem-se a uma atitude reflexa, ao esforço da vontade, às pesquisas e explorações do ambiente e das pessoas que a rodeiam e  uma especial vitalidade interior que explica as suas conquistas naturais.
Se a família corresponde a seus anseios, com demonstrações de carinho, calor humano em quantidade, diálogo franco, respeito, ensinamentos morais, disciplinas e ordem, ela terá respostas cheias de alegrias e verdades, sente que faz os outros felizes pelos seus próprios méritos e valores pessoais. Não precisa fazer nada para ser amada, senão ela mesma. Será  uma criança aberta às amizades, a confiar nos outros, a retribuir calor humano e amor. Será honesta e autêntica. Desabrochará qual singela rosa, robustecida em seus propósitos aprimorados pelo amor de Deus.
Aqui, os compromissos existentes na retaguarda se transformaram em estrelas rutilantes, filhas da compreensão, do perdão, da fraternidade que a todos reformou, pelo ato de servir amando.
Entretanto, a grande maioria dos pais adota a postura “amor condicional”, que sempre degenera num amor tipo “balança de dois pratos”, onde o bebê percebe com facilidade as condições que seus pais lhe impõem para amá-lo. À medida que ele cresce, crescem também as cláusulas do amor condicional, exigências impostas entre sorrisos ou cara fechada, frieza ou afetividade, palavras ou silêncio. A criança paga um preço de admissão ao amor que presume ter direito.

Chantagem emocional
Recompensa para os acertos, penalidades para os erros. Pais ambiciosos, vaidosos, egoístas, possessivos, presunçosos, orgulhosos, críticos, impiedosos, violentos, tiranos, perfeccionistas, amorais, tímidos, utilizam-se dessa chantagem emocional e vão conduzindo estas personalidades em crescimento por caminhos duvidosos, deixando que continuem a crescer em seus corações o joio que precisava ser extirpado.
Projetam no filho suas vivências desequilibradas, numa cobrança que não podem fazer, desejosos que ele seja o que  não puderam ser, de ter o que não puderam alcançar, numa pseudo-educação moderna que desconhece limites.
As conseqüências deste comportamento são catastróficas para a criança, em termos de sua auto-imagem e capacidade de amar a si mesma.
Crianças que percebem o que é ligado e desligado, como uma corrente alternada, concluem que o seu valor não está nela mesma, mas em alguma coisa que ela pensa oferecer, em ser e fazer o que os outros esperam dela: desenvolvem a habilidade de atender as necessidades alheias, jamais as suas. Serve a todos, por medo de perder o “amor” que lhe dão e deixa-se usar, sem jamais ter a condição de florescer por si mesma.
São as submissas, as conformadas, as mentirosas, as obedientes, as tímidas, as que procuram não causar problemas, as perfeccionistas, as que pedem sempre desculpas, as que contam sempre vantagens, as atrizes, as que são sucesso buscando agradar aos pais; as vítimas, as raivosas, as solitárias, as cínicas, as retraídas, as subservientes e tantas outras.
Crianças fracassadas, por não conseguirem atingir as metas que lhe são impostas; são lindos botões de rosas podados em pleno alvorecer.
Jamais poderão adquirir o senso de moralidade que deveria nortear suas vidas, pelas experiências pessoais falidas.
Pais desajustados e filhos neuróticos é o que comumente observamos.
Joanna de Ângelis nos diz que: “A família é o fulcro da maior importância para a formação do Homem” .
Emmanuel esclarece: “Em família, temos aqueles que permanecem conosco para o nosso amor e aqueles que se demoram conosco para a nossa dor”. Em Lucas (10:20) encontramos a porta que nos leva à nova esfera de iluminação, nesta pergunta: “E quem é o meu próximo?”.

Lâmpada do amor
É justamente o filho da nossa dor, aquele que se encontra mais perto de nós, o que se avizinha em nossos passos a nos solicitar uma cooperação ativa, cheia de boa vontade e respeito, na figura do(a) companheiro(a) difícil, ou filho decaído.
Necessário se faz que apresentemo-lhe o mundo, deixando que ele construa seu mundo interior; amparemo-lo sem alarde para que se corrija; estimulemo-lo para que se faça melhor; pratiquemos a fraternidade sem afetação, para que caminhe em direção ao bem.
Acendamos a lâmpada do amor em seu coração para que lhe ilumine os passos.
Exemplifiquemos, pelo trabalho, a fortaleza e bom ânimo. Esta luz amorosa que bane as trevas, é o Evangelho do Senhor.
Evangelizemo-nos, para aprender a amar.
Jesus nos deixou a regra áurea do Amor: “Um novo mandamento vos dou: que vos amei uns aos outros, como eu vos amei” (João, 13-34)”.
Assegura o Cristo à toda a humanidade o regime da verdadeira solidariedade, da confiança fraternal e do entendimento recíproco, que redime e liberta o homem.
A doutrina dos espíritos solicita de cada um a reforma íntima, ampla, geral, irrestrita, abençoando o convívio fraterno do lar; na figura dos pais materiais, colaboradores de Deus, no processo de iluminação de mentes comprometidas, de corações conturbados, dos filhos que lhes chegam, vida de suas vidas, que vão viver a vida da humanidade inteira com a Boa Nova de Cristo, no santuário dos seus corações.
Viverão plenamente em espírito, ressarcidos pelo amor que o gerou, e transformando em centelha de luz eterna, em busca da luz maior universal: Deus.

Artigo publicado na Revista Cristã de Espiritismo, ed. 25.

fonte: http://www.rcespiritismo.com.br/

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